sexta-feira, 4 de março de 2011

Luna talvez conseguisse se lembrar que música tocava naquele momento, se naquele momento o mundo não tivesse ficado mudo a sua volta; talvez conseguisse se lembrar o que acontecia um segundo antes, se naquele momento não tivesse apagado o restante pra só pensar naquilo; talvez pudesse se lembrar das frases soltas que ouviu dos seus amigos segundos depois, se algo do que ouviu tivesse feito algum sentido; talvez pudesse tentar explicar o que sentia, se aquele sentimento fosse minimamente familiar (não o era, ainda bem).
Luna talvez tivesse conseguido engolir o choro, se não tocasse um Frevo Novo nos seus ouvidos quando tentou fugir; teria conseguido talvez, ainda assim, se aquele rapaz não cantarolasse aos gritos um Último Romance no ouvido daquela moça e se aquilo, sim, não o fosse extremamente familiar (e o era, ainda bem); a noite talvez fosse carnaval, se na sua cabeça morasse ainda alguma vontade de não ser de ninguém; seria carnaval para Luna também, não fosse o fôlego sem fim pra nadar contra a correnteza das normalidades.
Luna talvez não derramasse tantas lágrimas sob as estrelas da varanda do pequeno apartamento, se a ausência de reciprocidade não fosse uma de suas maiores tristezas no mundo. Luna talvez tivesse tomado um café, se coubesse alguma coisa dentro dela, que não aquele sentimento; talvez estivesse dormindo agora, se conseguisse.
Luna provavelmente não teria visto, trajado de branco, quase invisível em meio a tantas cores e tanto brilho, não fosse o seu coração que passava na avenida, carnavalizando a vida.


A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.

Um comentário:

  1. Luna, pobre Luna....

    Tanto sofrer, num corpo tão pequeno.
    mas o sofrer se mede pelo tamanho da alma.

    Tamanha mágoa,
    que mesmo tamanha não devia sobrepujar-te o sorriso.
    Que mesmo estranha não deveria manter submersos teus olhos em mar de água salgada.

    É inevitável, e também lamentável, querida Luna. Eu sei.

    Mas como a Uva, a boiada, o dia e as certezas da vida. Tudo há de passar.

    Visite o bloco de Thay. Xero

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